sobre diálogos possíveis

Tudo começou com uma mãe solicitando que as outras mães só falassem bem dos seus candidatos em casa. Uma mãe achou ok sugerir que não falassem mal de outros candidatos para os filhos. Segundo ela, os seus, aos 7 anos, não teriam idade para falar de política. Eu demorei a acreditar no que estava lendo. Conversa de grupo de whatsapp de pais, a gente demora a se situar, normal.
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Eu sei que a discussão rendeu. Eu me opus, claro. Teve mãe reclamando de professor, mãe reclamando de criança indo para escola de adesivo. Do outro lado, crianças fazendo campanha, crianças ávidas por discutir política. Enfim, aquele trelele típico de um período turbulento, de polarização extrema. Tá ruim? Tá péssimo. Mas crianças que se resolvam com crianças. No máximo com a intervenção dos professores para facilitar a resolução dos conflitos. Mas sabe o que aconteceu? A direção decidiu proibir, segundo eles temporariamente, os adesivos. Ou seja, proibir a livre manifestação individual. Não poderiam ter me decepcionado mais.
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Gente, na boa, chega junto aqui. Qual a dificuldade de mostrar para os filhos que as percepções que eles adquirem no mundo podem não ser verdadeiras? Qual a dificuldade de sentar junto a família toda e conversar abertamente sobre temas políticos? PeloamordeDeus, qual a dificuldade de aceitar que seu filho diz que vai votar no Bolsonaro mesmo você sendo #elenão até a morte? Qual a dificuldade de desconstruir o discurso raso de que Lula é ladrão através da análise de todo contexto político brasileiro? Por que, me diz por que, as pessoas estão abrindo mão do diálogo com seus próprios filhos sobre a realidade? Por que essa necessidade de proteger a todo o custo as crianças de acessarem opiniões e ideologias opostas?
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Eu me recuso a menosprezar a capacidade do meu filho de entender o mundo. Com o olhar que lhe é possível, ele vai construindo suas visões, seus questionamentos, suas ideias. A nós cabe o respeito e a disponibilidade de dialogar. Por diversas vezes recorremos ao Google, por exemplo. Por diversas vezes, vamos lá trás na história. Por diversas vezes ele discorda da gente. Ok. É assim mesmo que tem que ser. Eu prefiro virar à esquerda mas meu filho pode querer o caminho mais à direita.
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Por favor, pensem comigo. Política não é só Brasília. Política são as nossas escolhas. A democracia começa dentro de casa. Não há mais espaço para autoritarismo em nenhuma relação. Se as crianças não fizerem na frente, elas vão fazer atrás. Por isso a gente tá nadando nesse mar de hipocrisia. Por isso uma criança disse pro coleguinha que ia votar no Haddad mas a mãe não podia saber.

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