lição de casa

Fomos ao cinema ontem. Com as amigas da escola. Encontramos também a amiga da infância, que ele ama de paixão. Ele teve dificuldades de administrar estar todo mundo junto naquele momento. As resistências foram ficando gradativamente evidentes. Não queria oferecer o bolo, não queria dar as mãos para subir a escada rolante, não queria dividir a pipoca, não queria ninguém perto. Frustrações à flor da pele e nenhuma chance de lidar com elas.

E nem eu com as minhas. Tentei contornar a situação de várias maneiras. Chamei em particular, conversei sério, ameacei (difícil me livrar das ameaças), lembrei com saudosismo dos velhos tempos em que um puxão de orelha resolvia tudo. Queria que ele conseguisse identificar o que estava sentido, revertesse o sentimento, pedisse desculpa e fosse feliz para sempre durante uma sessão de cinema. Vontade de sair correndo.

O filme acabou e ele continuou. Era fome? Era sono? Era gratuito? Era cansaço? O horário? Fui eu?

Ele devorou a janta no restaurante, dormiu assim que sentou no carro, eu desabei quando cheguei em casa. Em comum, as frustrações, dele e minhas. Hoje acordei e entendi (mentira, ainda tô assimilando).

E sabe o que era? Dois seres humanos em formação, crescendo juntos, vivendo e aprendendo. Porque na vida a gente nunca para de aprender, só se renovam as lições. Ontem foi aquela equação matemática que eu desisti de entender por nunca conseguir nem começar. Só que de filho não dá pra desistir, no way. Sigamos então.

Obrigada, universo. Posso te pedir o favor? Manda umas dicas aí. Nunca te pedi nada.

uma pausa

Fazer uma pausa é quando corpo e mente pedem para descansar. É também quando a gente precisa de um tempo para organizar as ideias em pastas separadas por temas. Quando perguntamos mais do que respondemos. Quando o armário tá muito bagunçado, os sapatos desencontrados e tem poeira embaixo do sofá. Quando a vida dá um presente e logo depois pede o presente de volta. Quando um urso corre atrás da gente todos os dias, da hora de acordar até a hora de dormir. Quando temos certeza que é preciso se afastar para entender.

Uma pausa foram esses seis meses que fiquei sem postar absolutamente nada aqui. Não foi nada muito intencional, aconteceu mas fez um bem enorme. Foi bom ver que o reconhecimento é um adendo e não uma necessidade. Foi bom ver que somos felizes na nossa intimidade secreta. Foi ótimo comprovar que o dividir é só uma escolha. Que o compartilhar é um dos meus dons e que eu sei fazê-lo no corpo a corpo também.

Agora deu vontade de voltar. Porque as minhas mãos pedem para escrever e o meu coração para compartilhar. Porque eu pre-ci-so acolher e dividir as minhas tristezas. Porque finalmente eu entendi e aceitei que é mais sobre mim do que sobre ele. Porque a maternidade é tão intensa que não cabe só em mim. Porque eu não vim pra essa vida a passeio, ahhh isso não mesmo.

E como a gente renasce todos os dias e nunca mais é a mesma, um novo nome que faz bem mais sentido com o eu do momento. NOSSA AGRIDOCE VIDA. Dias felizes, dias tristes, simplicidade, dilemas, sustentabilidade, memórias, filhos, mimimis, feminino, tretas, natureza. Uma vida real, de verdade, uma conversa aberta, tête-a-tête, eu, vocês, minhas amigas, minha família, minha vida, nossa agridoce vida. Divide a sua comigo?

o Kidzania e a publicidade abusiva

Hoje a gente foi no KidZania. Já ouviram falar? Então, a princípio uma mini cidade feita para crianças. Hospital, corpo de bombeiros, auto escola, avião, banco, hamburgueria, loja de departamento e muito mais. As crianças podem participar de todas essas vivências de forma bem real, como se fossem adultos. Bacana, né?

Entrei com lágrimas nos olhos de ver a alegria do Davi. Mas aos poucos a ficha foi caindo. O banco era o Bradesco, a hamburgueria o Burger King, o avião Latam, a oficina de doces Kopenhagem, a auto escola Toyota, a barbearia Bozzano, a loja de departamento Estrela. Tudo na cidade era publicidade goela abaixo das crianças.

Por que? POR QUE? Por que expor nossos pequenos dessa forma agressiva ao consumo? Será que a publicidade nunca terá limites na sua relação com a infância?

Davi adorou e tudo bem, valeu a visita. A estrutura é ótima, a proposta idem. Ele não mencionou as marcas e eu fiquei na minha também. Mas pensamento crítico é aquela coisa que eu prezo mais que tudo quando o assunto é a preservação de uma infância livre para o meu pequeno. A gente pode até voltar outras vezes mas sempre atentos para não se deixar levar pelas tentações do capitalismo selvagem.

E o melhor de toda a nossa tarde:

– mãe, aqui é escuro, não tem céu!

– é né, filho? Lugares com céu, luz natural e natureza são bem mais legais!

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Davi e Édipo, tudo a ver

Toda vez que a gente viaja ele volta ainda mais agarrado comigo. Não sei aí na casa de vocês mas por aqui o Complexo de Édipo tá confirmadíssimo: Davi é a-lu-ci-na-do por mim. Quatro dias vivendo no tempo dele é o suficiente para exigir exclusividade.

Aí a vovó se ofereceu para pegá-lo no colégio. Pode, claro, com certeza, por favor, eu lhe imploro, beijo os seus pés. Precisava descansar, trabalhar, dar faxina sem ninguém exigindo a minha presença de cinco em cinco minutos.

Pois bem, hora de dormir, eu vou ter a cama só para mim. Delícia! Delícia nada, tô aqui cheia de saudade do meu chiclete grudento. Chega logo amanhã!

 

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