Eu também acho que a culpa é do PT. Não de tudo porque ninguém nesse Planeta Terra carrega o fardo sozinho. Sejamos adultos, gente. Mas de fato acho que faltou autocrítica e sobrou arrogância. É que as pessoas ainda não entenderam que se responsabilizar pelos erros é bonito. Assumir as vulnerabilidades é o que nos faz melhor todo os dias. Ter orgulho da própria imperfeição é o que nos move em direção ao progresso. O PT precisa ler Brené Brown. Isso é uma coisa.
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Outra coisa é eleger um candidato fascista, racista, homofóbico que promete acabar com os “coitadismos” no Brasil. Coitadismo, nova palavra citada por ele em entrevista ao SBT ontem. Acabar com o coitadismo de negros, o coitadismo de nordestinos, o coitadismo de mulheres, o coitadismo de gays. Coitadismo das vítimas de bulling. Ou seja, o negro que volte pra senzala, o nordestino pro pau de arara, as mulheres pro fogão, os gays pro armário. E os brancos-classe-média-escola-particular-viagem-pra-Disney-nas-férias podem voltar ao título de os donos da bola.
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É que eu já fui margem. Eu estudei em colégio classe média tradicional católico. Eu, pobre. (Minha mãe ficava meses sem conseguir pagar as mensalidades). Eu, não cristã. (O que nada tem a ver com admirar e honrar a história de Jesus Cristo) Carregar esse fardo é pesado demais quando não se tem iguais por perto para lutarem por respeito com você. Aí eu achei melhor sair de cena. Era ousadia demais ser a representante da turma. A invisibilidade é o modo de sobrevivência mais viável nesses casos.
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Os anos passaram e a margem ganhou visibilidade. Os anos passarem e a margem pode ter que voltar pro seu lugar. Hoje eu nem sou tão margem assim. Branca classe média moradora da zona sul niteroiense. Uma piscina olímpica de privilégios. Mas eu nem durmo pensando que índios podem ser dizimados, mulheres perseguidas, negros torturados, gays assassinados. O que já está acontecendo, né?
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Nada nessa vida tá acima do ser humano. Nem economia, nem corrupção endêmica, nem Lula ladrão. Nos livros de história do futuro, eu vou ser aquela parcela da população que votou contra o nazismo. Aquela galera que sentia de longe o cheiro das câmaras de gás. Dessa culpa, eu tô livre.